Servo para todos!
Nascido em Castelmassa (Rovigo), perto de Veneza, na Itália, Dom Mário está à frente da Diocese de Propriá, em Sergipe. Com seu jeito simples, alegre e descontraído, ele concedeu à revista Brasil Cristão uma entrevista onde fala de sua vida, sua vocação, assuntos importantes de nossa Igreja e de interesse de odos os católicos.
BC: Dom Mário, como foi o chamado de Deus em sua vida, especialmente para ser missionário?
Dom Mário: Entrei no Seminário há cinquenta anos. Eu era uma criança de apenas dez anos e lá recebíamos sempre a visita de missionários e de Congregações diferentes: PIME, Xaverianos, Sociedade das Missões da África e muitas outras. Meu sonho, então, era tornar-me missionário. Quando comuniquei isso ao meu pai, ele foi logo me dando uma brecada. Fiquei calado por anos, mas ao completar vinte e um anos tomei a decisão ao abrir uma revista missionária, onde li um pequeno artigo. Lembro-me até hoje, como uma fotografia bem estampada em minha mente. Era do Seminário Nossa Senhora de Guadalupe. Este seminário nasceu de um apelo que o Papa João XXIII fez para que se desse uma ajuda à América Latina, pois estavam desfalcados de vocações, de padres. Foi uma luz para mim: "Este é o meu seminário", pensei imediatamente. Falei com o Reitor, que falou com o Bispo e ele deixou. No dia em que o Papa Paulo VI iniciava seu Pontificado inscrevi-me como candidato `a vida missionária. Fomos em setenta e dois! Descobri há poucos dias que um destes tornou-se Cardeal da cidade do México, Cardeal Riveira. Foram três anos de preparação. Anos realmente ricos! Chegada hora fui designado para o Brasil, Estado de Sergipe. Quando cheguei em 1968, a Diocese era bastante pobre de padres. Já a Diocese de Estância/SE, onde trabalhei por vinte e nove anos, tinha padres suficientes e até hoje está "emprestando" padres para outras Dioceses. Lá não têm faltado vocações!
BC: Com foi essa mudança em sua vida: sair da Itália e vir para o Brasil, para outra realidade completamente diferente?
Dom Mário: Bom, fui para uma paróquia privilegiada. Isso se deve a uma "reforma agrária" feita por volta de 1890, por iniciativa de um padre que trabalhava lá. Naquela região, para se casar, era necessário que a pessoa se preparasse financeiramente para isso. Chegavam os noivos: "Padre, queremos casar!". Ele perguntava: "Meus filhos, vocês têm casa?" "Não"! "Têm uma terra para o plantio?" "Não"! "Tem cavalo, vaca?" "Não"! Então, meus filhos, peço que vocês vão trabalhar e quando tiverem tudo isso, celebrarei o casamento de vocês". Praticamente ele colocou um fundamento econômico para a estabilidade da família. Noto uma diferença muito grande dessa paróquia, onde eu estava antes, com a que estou hoje. Há poucos casamentos religiosos onde estou. Mas, naquela paróquia ainda há um grande número de casamentos, fruto da visão e do processo de "reforma agrária". Lá há aproximadamente quatorze mil minifúndios. De um modo geral a população de Sergipe é bem difenciada, há índios, negros, etc. É um povo ótimo! Quando meu pai veio me visitar (uma única vez) ele sentiu o calor humano do nordestino e disse que eu seria burro se voltasse para a Itália. Ele gostou muito do Brasil! Concluíndo, eu não sofri ao vir para cá. Gostei muito daqui! Tem as dificuldades, mas são poucas, mais da parte dos políticos, de certas coisas, mas o povo é maravilhoso! Minhas dificuldades foram compensadas pela acolhida, amor e pelo desafio de uma Igreja que caminha, que vive e é atenta ao povo: às situações espirituais, materiais, econômicas, políticas, sociais. Sinto aqui a "utilidade" que tem um padre, um bispo. Tenho uma missão que não é inútil. Aqui sinto que não sou uma figura supérflua, decorativa, ou mesmo parte da tradição. Lembro-me que alguns anos depois do Concílio vi uma entrevista sobre os padres cujo título era: "Padre, por quê?". Esta pergunta não tem sentido para mim. Estou dentro da minha missão, sei muito bem o que fazer e porque sou padre e bispo. Esta consciência da identidade de padre é muito importante hoje, inclusive, como complementaridade na vida do leigo, numa igualdade fundamental, que é a igualdade do Batismo, porém, numa diferença de serviços. Isso também justifica o porquê de não entramos na política partidária, que é um campo onde o leigo tem uma graça especial para atuar.
BC: Já que o senhor falou nisso, como os cristãos de verdade devem agir, pensar e se preparar para as eleições desse ano?
Dom Mário: A CNBB publicou há uns dias atrás um livrinho sobre isso. Trata-se do Documento 67: "Eleições 2002: propostas e reflexões". Nele a Igreja propõe pontos que ajudam a refletir e o faz com a ajuda de leigos, de religiosos, com a ajuda de todos. Do ponto de vista ético, para uma ética na política. A Igreja tem esta missão como conseqüência da fé. Então, é necessário sim que a Igreja faça política, ao nível da fé, da ética, para ajudar os cristãos a refletirem sobre sua missão de batizados. Aqui no Brasil, a postura da Igreja é de abstenção de indicar o partido ou o candidato.
BC: O senhor indica este Documento da CNBB, para todos os católicos?
Dom Mário: Mas é claro, é obrigação e dever do católico conhecê-lo! Todos têm que ter uma visão do mundo, das causas e do porquê da pobreza, da miséria. Sabemos que pobreza e miséria são frutos de determinadas leis e interesses. Sabemos quem domina o mundo hoje, onde é conduzido e quem faz as leis e porque fazem essas leis. Por exemplo: existem várias leis que estão aí para encobrir grandes distorções. Os cristãos devem lutar por um mundo melhor. O cristão deve sentir o âmbito de sua missão, não pode ser omisso. Como Igreja temos sempre que fazer mais... Vi em certas nações escolas de política, que mostram qual a visão do homem, do Estado, da Democracia e da sociedade. Aqui no Brasil, o Estado quer ser o dono da sociedade, com mentiras e corrupção. Não a respeita, quer manipulá-la! Sinto isso muito forte no Nordeste, pois lá tudo é mais difícil. O papel da Igreja é formar consciência! E, hoje, já temos as emissoras que trabalham com a espiritualidade e que estão prestando um grande serviço neste sentido.
BC: Fale-nos um pouco sobre sua opinião a respeito dos canais católicos e por que o senhor foi um dos primeiros bispos a apoiar a TV Século 21, instalando uma retransmissora desse canal em sua Diocese?
Dom Mário: Ah! Eu me entusiasmei logo com isso! De antemão, mesmo antes de conhecer e assistir, já pensei: "Nós precisamos de um canal católico, precisamos ter este canal aqui". Lógico que logo também vieram as críticas: pode ser muito piegas, muito religioso, porque isso, porque aquilo, etc. Não me interessa. Tenho essa opinião:
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