segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

UM REPÓRTER TESTEMUNHA A VOLTA DE PADRE VITO


Na foto Pe. Vito, Pedro Eurico e Ruy Sarinho (de chapéu)

O jornalista Ruy Sarinho, que mora em Olinda e trabalha no Recife, estava no Aeroporto Internacional da capital pernambucana e testemunhou a chegada e a emoção no retorno do padre Vito Miracappilo ao Brasil. Abaixo o texto do repórter enviado com exclusividade para este blog:

"Visivelmente emocionado, feliz da vida e sorrindo muito, o Padre Vito Miracapillo foi recebido nos braços dos seus amigos de Ribeirão e de Pernambuco, na noite dessa terça-feira, 03 de janeiro de 2012, mais de 31 anos após ser expulso do Brasil, em outubro de 1980, nos últimos anos da ditadura militar de 1964, pelo general-ditador de plantão, João Batista Figueiredo, aquele que gostava mais do cheiro do cavalo do que do povo brasileiro.

"Depois do desembarque, cercado por umas cinqüenta pessoas que foram recepcioná-lo, entre antigos participantes da Pastoral Católica de Ribeirão, integrantes de movimentos de direitos humanos, políticos, jornalistas, simples admiradores, ou apenas curiosos, o Padre Vito falou ao telefone com o arcebispo de Palmares, Dom Genival Saraiva de França. Na conversa, com um forte brilho nos olhos e um sorriso expansivo, ele resumiu ao amigo todo o seu sentimento, nesta volta definitiva a Pernambuco: “O avião da expulsão deu a volta”!

"Entre seus amigos e seguidores, o casal Norma Sueli e Oscar Tavares de Melo, casado pelo Padre Vito no mesmo ano de sua expulsão do País, Cícero Tavares de Melo e Sônia, todos participantes da Paróquia de Ribeirão na época em que o religioso desenvolvia seu trabalho naquela Cidade da Zona da Mata pernambucana, eram o autêntico retrato da felicidade. Eles relembravam atitudes do Padre Vito, na defesa da população massacrada pelos latifundiários aboletados em suas grandes fazendas, atuação que incomodava esses distintos simpatizantes do golpe militar.

 “O Padre Vito denunciava as injustiças e fazia a população refletir sobre elas”, sintetizou Oscar. Já sua mulher, Norma Sueli, com as flores nas mãos que levou para o querido amigo, ria ao lembrar que na estrada, no seu fusquinha acanhado, ele saía dando carona a todo mundo que encontrava pelo caminho. “Entravam mais de dez, de um em um; certa vez, ele terminou com o volante solto, na sua mão”, contou.

"A história, ainda tem gente, principalmente os mais novos, que não conhece, ou apenas ouviu falar. No dia sete de setembro de 1980, o Padre Vito Miracapillo recusou-se a celebrar a missa programada pela Prefeitura Municipal de Ribeiro, Cidade da qual era o pároco, em comemoração ao Dia da Independência do Brasil, por entender que aquele povo, sofrido e humilhado pela miséria social, pela exploração dos patrões do coronelismo rural e violência da ditadura militar vigente, não havia conquistado, ainda, a sua independência. Depois do episódio, incitado por esses latifundiários e pela ação de um obscuro e folclórico deputado estadual, Severino Cavalcante, que era uma dos mais fiéis lambedores das botas dos generais, João Batista Figueiredo baixou um decreto, expulsando o religioso do Brasil.

“Para nós, foi a morte”, definiu a paroquiana de Ribeirão, Norma Sueli. Apesar da frase forte da sua amiga fiel, de certa forma, a expulsão do padre italiano Vito Miracapillo pode ter sido a salvação de sua vida. Ninguém que viveu aquela época duvida que se ele, tivesse permanecido em Ribeirão, poderia ter sido assassinado, como o Padre Henrique, por pistoleiros contratados pelos fazendeiros da região, com o aval dos militares, incomodados com as suas pregações e com a mobilização dos camponeses, que eram orientados por ele a defenderem e lutarem por seus direitos, por suas vidas.

"Nesta volta, o Padre Vito Miracapillo terá o seu visto permanente no Brasil renovado, a partir de ação impetrada no Ministério da Justiça pelo advogado e ex-deputado, Pedro Eurico, que foi um dos que o recepcionaram, no Aeroporto Internacional dos Guararapes, neste retorno festivo e emocionante a Pernambuco. Sob o coro dos seus amigos, cantando a música-poema Vito, Vito, Vitória!, composta na época pelo Padre Reginaldo Veloso, do Morro da Conceição, o momento ainda ganhou mais emoção quando todos, em coro, leram em voz alta as palavras proféticas de Dom Helder Câmara, publicadas em 31.10.1980, pelo Jornal Do Brasil, e impressas na contracapa do livro O Caso Padre Miracapillo:

“Em lugar de julgar os juízes da nossa Corte Suprema,
prefiro dirigir-me ao Padre Vito: vá tranquilo, Padre Vito.
Agradeço a Deus que você não leve travo nenhum em
seu coração. Continuaremos a luta pacífica, mas corajosa,
da qual você participou. Continuaremos, inclusive, a
sustentar que defender os direitos humanos é direito e dever
de todas as criaturas humanas, sobretudo os cristãos.
Saiba que não é o povo brasileiro que o está expulsando.
E alegra-me pensar que, assim que o Estatuto dos
Estrangeiros assumir uma redação humana, você voltará
a este país e a este povo que você leva em seu coração
(...) A Igreja, com a ajuda divina, não mudará sua linha
pastoral, aprovada abertamente pelo Santo Padre, em
sua inesquecível visita ao país”. (DOM HELDER CÂMARA)

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