segunda-feira, 3 de junho de 2013

50 anos da morte de João XXIII: o testemunho de Dom Loris Capovilla

50 anos da morte de João XXIII: o testemunho de Dom Loris Capovilla

2013-06-03 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV) - No dia 3 de junho de 50 anos atrás morria João XXIII. Às 17h locais desta segunda-feira, o bispo de Bérgamo – cidade localizada na região italiana da Lombardia –, Dom Francesco Beschi, presidiu uma missa na Basílica de São Pedro para os fiéis de sua diocese, por ocasião deste aniversário.
Pouco antes do final da celebração, o Papa Francisco chegou à Basílica Vaticana para dirigir um breve discurso aos participantes da peregrinação da Diocese de Bérgamo, à qual pertence a pequena localidade de "Sotto il Monte", terra natal do Papa Roncalli.
João XXIII, cujo nome de Batismo era Angelo Giuseppe Roncalli, foi eleito 261ª Pontífice em 28 de outubro de 1958, sucedendo Pio XII, e desde o início revelou um estilo que refletia a sua personalidade humana e sacerdotal amadurecida mediante uma significativa série de experiências e uma intensa vida espiritual.
O Papa que convocou e abriu o Concílio Vaticano II morreu na noite de 3 de junho de 1963 e foi Beatificado por João Paulo II em 3 de setembro de 2000.
Para uma recordação pessoal do "Bom Papa João", a Rádio Vaticano entrevistou o Arcebispo Dom Loris Capovilla, que foi secretário particular do Papa João XXIII.
Dom Loris Capovilla:- "O seu colóquio com Deus era algo de imediato, espontâneo e sereno. Como a criança que se dirige à mãe. A sua fé era a fé simples dos pequenos e dos pobres. Ele afirmou isso numa belíssima carta a seus pais. Na época era representante do Papa na Bulgária e no dia de Natal, com saudades, pensou em sua casinha de camponês. Viu todos os seus em torno da pobre e modesta mesa e sentiu uma saudade tal que disse: "Natal é a festa das famílias, especialmente daquelas que têm muitas crianças, como a nossa. E é por amor às crianças que devemos ser bons e viver em grande paz". E disse: "Saibam que estudei, fiz doutorado, mas esqueci quase tudo daquilo que aprendi e adquiri na escola. Nada esqueci daquilo que aprendi de vocês, papai e mamãe; daquilo que aprendi do meu pároco, que me batizou. E essa luz é o melhor da minha vida: a força para continuar a obedecer àquilo que o Senhor me diz através do Espírito Santo."
RV: Essa figura gigantesca do século passado, reconhecida por todos – não somente pela catolicidade –, teve uma vida significativa. Com essa bagagem viveu a sua trajetória, uma trajetória importante – do ponto de vista dos encargos desempenhados – mantendo-se, porém, muito ligado às suas origens...
Dom Loris Capovilla:- "No dia de sua eleição ao papado, assomando ao balcão central da Basílica de São Pedro – em torno das seis da tarde –, os holofotes das televisões, das câmeras, ofuscaram-lhe, e ele que era curioso, que gostava ver no rosto os seus irmãos e irmãs, não viu nada. E de certo modo, desiludido por não ter visto nada, disse: "Saia do balcão da Sala das Bênçãos. O Crucifixo que me precedia estava voltado para mim, e pareceu-me que Jesus me dissesse: "Angelino! Você mudou de nome e de veste, mas lembre-se que se não permanecer manso e humilde de coração, como sou eu, não verá nada da vida da Igreja e da vida do mundo. Permanecerá cego!" Manso e humilde de coração: foi a sua primeira expressão como Papa"."
RV: Podemos dizer que foi justamente a urgência de falar sobre Deus na maneira mais justa a dar-lhe essa intuição histórica de convocar o Concílio?
Dom Loris Capovilla:- "Quando iniciei meu serviço como seu secretário, ele deu-me uma norma prática e sábia de comportamento. Disse-me: "Eu lhe farei muitas confidências, falarei quais decisões deverei tomar. Se você estiver contente com a notícia que lhe der, pode me dizer. Se tiver alguma reserva e não estiver tão entusiasta, não deve me dizer: pode deixar que eu lhe pergunto". Aconteceu isso em relação ao Concílio: quando me falou pela primeira vez, não lhe disse nada. Pela segunda, não lhe disse nada. Pela terceira, me disse: "Falei-lhe deste evento que o Espírito Santo suscita dentro de mim e você não me diz nada, por qual motivo?" E eu respondi-lhe: "Porque o senhor não me perguntou". "Não, não: o motivo é outro", replicou. "Sabe que sou idoso, que é um projeto enorme, que não poderei realizá-lo... Porque você raciocina à maneira de um comendador que está à mesa discutindo um projeto!" Eu disse que não era assim: "Santidade, aquilo que o senhor decide é tudo muito bem feito e servirá para a humanidade inteira". E ele me disse: "O que importa não é realizar, fazer; mas aceitar a inspiração, e ser objeto de atenção da parte de Deus mesmo, que chama a colaborar com Ele, isso já é uma grande coisa! Mesmo se me acontecesse de somente anunciá-lo, já seria um grande evento". Esse foi o grande primeiro ensinamento que me deu. E o segundo ensinamento: "Lembre-se, eu sou bispo. Devo morrer como um bispo. Quando houver algo de grave, me deve dizer com toda clareza". E foi o último, verdadeiro, grande colóquio com ele quando lhe disse: "Santo Padre, é chegada a hora". E ele me disse: "Um momento: é preciso perguntar aos médicos". "Santidade, já o fizemos". Olhou-me: "É isso mesmo?". "Sim, Santidade, é assim". "Então podemos nos despedir". Depois disse: "Devem-me trazer solenemente o Sacramento da Eucaristia, deverão estar presentes os meus mais altos colaboradores: devo falar com cada um e despedir-me e fazer os votos de que o Concílio Vaticano II continue e seja coroado das bênção do Senhor. Quanto à sucessão, Jesus já a estabeleceu. Se depois de mim, se fizer inclusive de modo diferente, não importa: nós contamos até um certo ponto. É Deus quem conta, e se serve de nós, pequenos homens, para fazer grandes ou pequenas coisas em favor da salvação da humanidade inteira"." (RL)

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